As comédias salvaram o cinema nacional de um desastre com um crescimento de apenas 10,3%, no ano passado

Em um dos piores anos da história do Ranking Brasil, a comédia não fez piada e salvou o cinema nacional de uma temporada risível em termos de bilheteria. Com os piores números de ocupação de mercado desde 2009 e um encolhimento de público em quase 14%, 2012 deve servir apenas de estudo e reflexão para que os mesmos erros não venham a ser cometidos.

O longa “E aí, comeu?”, com Bruno Mazzeo, ficou em segundo lugar no Ranking 2012

O impressionante é que, dos filmes que entraram em circuito no primeiro semestre, apenas um, “E Aí, Comeu?”, de Felipe Joffily (lançado no finalzinho, em 22 de junho, com 512 cópias), conseguiu alcançar a marca de 1 milhão de espectadores, assegurando a vice liderança do Ranking com 2.601 milhões em ingressos vendidos. Outra comédia também lançada no primeiro semestre, “As Aventuras de Agamenon, o Repórter”, de Victor Lopes (6 de janeiro, 225 cópias), chegou perto, com 983.844 mil espectadores, ficando em quinto lugar no Ranking geral. E foi só.
Produções de alto investimento e das quais, por isso mesmo, se esperava o poder de seduzir o espectador para assisti-las, fracassaram, para surpresa dos especialistas e analistas do mercado. “Xingu” (6 de abril, 295 cópias), de Cao Humberger, fechou a bilheteria com 395.856 espectadores; “Paraísos Artificiais” (4 de maio, 223 cópias), de Marcos Prado, foi visto por apenas 402.329 mil pessoas.
O desastre do primeiro semestre destruiu ainda reputações de aguardados “bons de bilheteria”, conforme previsão dos especialistas, de filmes como “2 Coelhos” (20 de janeiro, 225 cópias), de Afonso Poyart (343.129 mil espectadores), “Billi Pig” (2 de março, 210 cópias), de José Eduardo Belmonte (262.213 mil), e o documentário “Raul – o Início, o Fim e o Meio” (23 de março, 34 cópias), de Walter Carvalho, com 167,5 mil espectadores.
No tsunami da ausência de público outros filmes elogiados pela crítica e tidos como sucessos certos, o futebolístico “Heleno” (30 de março, 56 cópias), de José Eduardo Belmonte (56 cópias, 92.635 mil espectadores), o drama “Reis e Ratos”, de Mauro Lima (170 cópias, 129.290 mil), o documentário “A Música Segundo Tom Jobim” (8 cópias, 74.535 mil), e “Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios”, de Beto Brant e Renato Ciasca, expressaram os grandes fracassos do primeiro semestre.
Semestre

O curioso é que o segundo semestre começou igualzinho ao primeiro. A diferença era que, enquanto “E aí, Comeu?”, o pretenso drama sobre sexualidade de Joffily, levava tijoladas da crítica, o público ia vê-lo empurrado pelo boca-a-boca. No final de sua temporada, levou 2,6 milhões de espectadores, ficando em segundo lugar geral no Ranking Brasil.
Ao longo do segundo semestre a produção que chegava às telas ia sendo, quase literalmente, ignorada pelo público. E aí, apanhadas no vazio das salas nas quais eram exibidas, as aguardadas recuperações da temporada 2012 foram se transformando em pesadelos.
“Na Estrada”, a produção internacional de Walter Salles, teve público de 286.333 mil; “O Diário de Tati”, 207 mil e 393 espectadores; “Corações Sujos”, pouco mais de 42 mil; o documentário “Tropicália”, festejado como um dos melhores documentários do ano, 75.418 mil; a ficção científica cearense “Área Q”, 38.541 mil ingressos vendidos. Outra produção cearense, “Mãe e Filha”, de Petrus Cariry, foi vista por apenas 602 espectadores.
O pior estava por vir. Tido incondicionalmente por todos como um sucesso certo, “À Beira do Caminho”, de Breno Silveira viu o público simplesmente ignorá-lo. Os 168 mil e 299 espectadores que lhe deram uma renda ínfima de R$ 1.515,453 o sentenciaram como o maior fracasso comercial do ano. Foi neste cenário de seca de público nos filmes nacionais que, no finalzinho do ano, as comédias começaram a aparecer e, em pouco tempo, gradualmente, foram aumentando o índice da produção nacional no mercado. E isso foi possível graças a dois filmes dirigidos por Roberto Santucci, lançados entre novembro e dezembro: “Até que a Sorte nos Separe” e “Os Penetras”. O filme redenção de Breno Silveira, “Gonzaga – de Pai Para Filho”, fechou o Ranking Brasil dos quatro primeiros filmes que superaram a marca de um milhão de espectadores. “Até que a Sorte nos Separe” conquistou uma plateia de 3 milhões e 432 mil espectadores e, com ela, a liderança do Ranking. Em segundo lugar, “E Aí, Comeu?”, com 2.601 milhões; “Os Penetras”, com 2.141 milhões; e “Gonzaga – de Pai Para Filho”, com 1.141 milhão.
Lembrando que “Os Penetras” teve a sua estreia antes do final do ano e “De Pernas pro Ar 2”, no dia 29 de dezembro, e, por isso, seguem sua carreira 2013 adentro e ainda estão em cartaz, ao contrário de “Gonzaga”, praticamente alijado do circuitão para dar espaço aos “blockbusters” estrangeiros. Observe que “De Pernas pro Ar 2´ já ultrapassou 3,6 milhões de ingressos vendidos e “Os Penetras” a marca de 2,5 milhões de espectadores. Na toada, as duas comédias de Santucci devem ultrapassar, respectivamente, os 4 milhões e 3 milhões de ingressos vendidos, o que está gerando um início auspicioso para o cinema brasileiro em 2013.
A Paris Filmes, de Márcio Fraccarolli, se apresenta, ao final de 2012, como a melhor distribuidora do País ao liderar o Ranking brasileiro com as três produções (“Até que a Sorte nos Separe”, “E Aí, Comeu?”, “Gonzaga”) e ainda ocupar outros postos entre os 10 com “De Pernas pro Ar 2”, “As Aventuras de Agamenon”, “Totalmente Inocentes” e “…E a Vida Continua”.
O que implicou na queda dos números do cinema brasileiro na análise final do mercado na temporada 2012 foi o fato de apenas 4 filmes conseguirem ultrapassar a barreira de 1 milhão de espectadores – daí o efeito crucial com os 10,3% de “market share” (ocupação do mercado). A boa notícia é que, com dois filmes “bombando” logo no início do ano, os números de 2013 devem ser superiores aos do ano passado, pois há, ainda, uma boa cartela de filmes a ser posta em cartaz, já a partir de agora, fevereiro.
As boas notícias é que o mercado nacional, como um todo, teve crescimento positivo, pelo sétimo ano consecutivo, em renda, 15,6% (R$ 1,6 bilhão), e o quarto, em público, 5%, R$ 148,8 milhões. Houve aumento, também, no número de cinemas, fechado em 8%. Em 2013 esse aumento deve ser maior: somente em Fortaleza serão inaugurados pelos menos dois novos conjuntos multiplex, no Shopping Parangaba (UCI Ribeiro) e North Shopping Parangaba (Cinépolis).
PEDRO MARTINS FREIRE
CRÍTICO DE CINEMA
http://diariodonordeste.globo.com/

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