Em 1995, há 18 anos atrás, Carlota Joaquina, Princesa do Brasil começa o processo que foi conhecido como retomada da produção do cinema nacional — ou, simplesmente, Retomada.
Nossa produção vinha de uma quase morte no início dos anos 90, motivada por diversos fatores. Entre eles, está a extinção da estatal que financiava e distribuía os filmes, a Embrafilme, em 1990, normalmente apontada como momento crítico para nosso cinema.
Mas não era só isso. Havia alguns anos que produtores investiam pesadamente no segmento de filmes pornôs, que espantaram o público mais tradicional dos cinemas — recrudescendo também um profundo preconceito contra a produção local. Além disso, cinemas no mundo inteiro sofriam com a diminuição nas bilheterias em decorrência da popularização do VHS durante toda a década de 80.
Entre 91 e 94, era possível contar nos dedos de uma mão os longas lançados. Os únicos sucessos ainda eram os filmes da Xuxa e dos Trapalhões – aliás, Didi, Dedé e Mussum (Zacarias já tinha falecido) já não levavam às salas as mesmas multidões das décadas anteriores.
O título mais lembrado destes tempos é A Grande Arte (1992), estreia de Walter Salles na direção. Era uma coprodução com os Estados Unidos, falada em inglês e com atores internacionais. Para muitos, era a forma da cinematografia brasileira subsistir; para outros, era traço inequívoco de que nosso cinema perdia suas referências enquanto expressão de um povo e de um país.
Ainda em 92, o governo federal (então sob a presidência de Itamar Franco) começa a tomar ações para dar um choque no coração do cinema brasileiro, com a criação da Secretaria de Desenvolvimento Audiovisual. O órgão financiaria produções através do Prêmio Resgate do Cinema Nacional e criaria a Lei do Audiovisual — cuja vigência foi estendida na gestão Fernando Henrique Cardoso até 2023.
O ano de 1995 é considerado o marco da Retomada não só por Carlota Joaquina. A comédia dirigida por Carla Camurati faz 1,2 milhão de espectadores (o melhor resultado de um filme brasileiro em sete anos, descontando-se as fitas da Xuxa, dos Trapalhões e as pornográficas), mas não estava sozinha No total, 14 longas foram lançados naquele ano – entre eles, O Quatrilho, que também fez mais de um milhão de público — e que, para sublinhar o renascimento para a opinião pública, ganhou uma indicação ao Oscar de Filme Estrangeiro em 1996.
A Retomada logo assumiu mais de um significado. Virou várias “retomadas”. Não mais somente da produção propriamente dita: era também a retomada do público, e também a retomada de formas de expressão cinematográficas identificadas com o Brasil.
Costuma-se dizer que o cinema nacional vive de ciclos: os ciclos regionais, o ciclo dos estúdios, o Cinema Novo, o ciclo da Embrafilme. Em cada um deles, há traços reconhecíveis no visual, na narrativa, na ambientação, nas ambições de estética e (ou) de mercado. Em contrapartida, a Retomada logo se mostrou como um espelho do Brasil moderno: uma miríade de assuntos e abordagens. Ao lado de dramas históricos, pululavam comédias românticas, dramas existenciais, fitas policiais, entre outros. A Retomada tinha inúmeras caras e poucos traços em comum que pudessem delimitá-la (ou limitá-la).
A pergunta que cabe: quando Retomada terminou? E quais dessas várias “retomadas” terminou de fato?
Há quem defenda que ela terminou logo ali, em 1998, com o lançamento de Central do Brasil, dirigido pelo mesmo Walter Salles de A Grande Arte. Além da consagração internacional em escala nova para os nossos padrões (foram 34 prêmios, incluindo o Urso de Ouro de Berlim e o Globo de Ouro de filme estrangeiro), era um drama contemporâneo que fez 1,5 milhão de público nos cinemas. A indicação ao Oscar de Melhor Atriz para Fernanda Montenegro causou comoção popular. E, no ano seguinte, o número de longas lançados tinha dobrado em relação a 95: 28. A produção estava definitivamente “retomada”.
Para outros, a Retomada findou somente em 2002 através de Cidade de Deus. Além da consagração internacional inédita em termos de bilheteria (30 milhões de dólares arrecadados pelo mundo todo, fora os quase noventa prêmios e indicações), a fita de Fernando Meirelles estabeleceu um novo patamar de público dentro do país, ao romper o estágio do “um milhão e pouco” e chegar aos 3,3 milhões de espectadores. Também causou forte influência na produção estrangeira (junto com outros títulos latinos do período), graças ao fantástico trabalho de narrativa, fotografia e montagem. A busca por uma estética brasileira também se “retomava”.
Outra possibilidade: depois de uma ótima metade de década, os 2000 viram o cinema nacional diminuir de participação dentro do seu próprio mercado. No preocupante ano de 2008, apenas 8,8 milhões de ingressos são vendidos. A virada, porém, tem data marcada: em 2010, o esperado Tropa de Elite 2consegue inacreditáveis 11 milhões de espectadores. Desde então, seguimos acima dos 15 milhões de pessoas por ano — só em 2013 já são 18 milhões. O público, a última posição a ser “retomada”, ainda que aos trancos e barrancos, vai sendo conquistada.
Os próximos anos serão repletos de desafios — sendo sempre o maior deles um insistente abismo entre os filmes e o público. Mas para quem já foi dado como morto, o cinema nacional até que está bastante bem…
 
fonte: http://www.diariodecanoas.com.br/blogs/setima-das-artes/470220/-saiba-mais-sobre-a-retomada-do-cinema-nacional.html

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