Um livro recém-publicado nos EUA leva para a cultura o tema de debate que, no ano passado, dominou a economia: a desigualdade. Depois de “Capital no Século 21”, do francês Thomas Piketty, que mostra a aproipriação da riqueza por uma ínnfima parcela do topo da pirâmide econômica, “Culture Crash”, do norte-americano Scott Timberg defende a tese de que a cultura é cada vez mais regida pela lógica do vencedor leva tudo. Alguns poucos artistas atingem sucesso comercial estratosférico e a grande maioria mal sobrevive.
Timberg dá dados para comprovar a teoria. Em 1982, os músicos que formavam o 1% dos mais ricos da profissão nos EUA ganharam 26% das receitas com shows. Já havia uma concentração, mas, em 2003, o 1% levou 56% do dinheiro das apresentações ao vivo. O dado aparece em um estudo do economista Alan Krueger, da Universidade Princeton.

Adão Iturrusgarai

Outro indicador do setor da música: no ano de 1986, 31 canções chegaram ao topo das paradas dos EUA. Elas eram de 29 artistas diferentes. Entre 2008 e 2012, só 66 canções chegaram a número um. E quase a metade era de seis cantores “”Katy Perry, Rihanna, Flo Rida, Black Eyed Peas, Adele e Lady Gaga.
Além dessa concentração, quem vive de cultura ainda enfrenta mudanças tecnológicas que implicam perda de centenas de milhares de empregos em lojas de discos, livros e outras empresas afetadas pela internet. Esses lugares, escreve Timberg, eram também celeiros de gente que, no futuro, iria produzir obras importantes. O diretor Quentin Tarantino foi balconista de videolocadora, a cantora Patti Smith, vendedora de livraria.
“As artes são um ecossistema e, se uma parte é atingida, ele colapsa. Nesse caso, a diminuição da classe média de trabalhadores da cultura afeta tudo. As pessoas não conseguem mais trabalhar em orquestras, em livrarias, em editoras etc.”, diz, em entrevista para a Folha.
“As Taylor Swifts e os Justin Biebers do futuro, os filmes baseados em quadrinhos e os livros de memórias de celebridades vão dominar cada vez mais o mercado, e artistas de nível comercial médio em literatura, filmes independentes e música irão colapsar. A situação é grave.”
O autor lembra que a cantora Cat Power já pediu falência e levanta outras histórias de artistas de porte médio que enfrentam dificuldades econômicas sérias. Ele mesmo perdeu seu emprego: sua vaga no jornal “Los Angeles Times” foi cortada.
Timberg acredita que a globalização, que exige mega investimentos, e a própria tecnologia têm um papel nesse processso.
Para ele, a “desintermediação”, como é chamada a maneira pela qual artistas encontram diretamente seu próprio público é para poucos, principalmente os que têm perfil empreendedor. Casos de grande sucesso, como o do rapper Macklemore, que sem gravadora alcançou o topo da parada da Billboard, e da autora E.L. James, que escreveu “50 Tons de Cinza” sem editora, como ficção de fã, são excepcionais, mas dão a impressão que esse é um caminho natural e acessível.

fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/03/1600010-livro-aponta-aumento-da-concentracao-de-riqueza-na-cultura.shtml

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