Adaptação do filme ‘Sarabanda’ para o teatro atrai público em BH
Ricardo Alves Jr. e Grace Passô acertam ao transpor para o palco o filme do sueco Ingmar Bergman. Espetáculo chama a atenção pela sua ousadia

Carolina Braga – EM CulturaPublicação:

Imagens projetadas e música ao vivo reforçam a mensagem do texto (Ricardo Portilho/Divulgação )

Imagens projetadas e música ao vivo reforçam a mensagem do texto

É uma pena que a montagem de ‘Sarabanda’, parte da mostra Ingmar Bergman – Instante e eternidade, não fique mais tempo em cartaz. A adaptação para o palco do filme de mesmo nome do diretor sueco é daquelas que merecem ser vistas e revistas. No entanto, foram apenas três sessões, com 200 espectadores em cada. Há rara ousadia na proposta comandada pelos diretores Ricardo Alves Jr. e Grace Passô.
Da ideia de homenagear o homem de teatro que também foi Bergman, a versão mineira é essencialmente teatral, ainda que não exclua o cinema e a música de seu caminho. Há, além de uma soprano (Nabila Dandara), uma pequena orquestra em cena. Equilibrar o uso dessas linguagens é o desafio e também o acerto. Por mais que existam telas, câmeras e até seus operadores em cena, em nenhum momento a peça se deixa sucumbir pela força da imagem projetada ou da trilha executada ao vivo.
Se é teatro, valem o peso da palavra e os atores em cena, por mais que diversos recursos sejam manejados em torno disso. Sarabanda não se desvia desse princípio. Ainda assim, chama a atenção o modo como a montagem se apropria do espaço para a encenação. Com o público acomodado no fundo do palco, todo o restante – a plateia e suas luzes, as coxias, a cortina corta-fogo, a cortina vermelha, o fosso de orquestra, o elevador – vira cenário para a vivência daquela família.
Não fica uma mirabolância gratuita porque há uma dramaturgia para sutentar. Em outras palavras, tem boa história a ser contada e é nela que todos embarcam. A mudança de espaço funcionou para o teatro, assim como os cortes estão para o filme. As trocas são manejadas em função da trama. Muda o ambiente, muda o tempo. A plateia vivencia.
Tal qual no longa, a peça começa com a chegada de Mariana (Rita Clemente) à casa de João (Gustavo Werneck) algumas décadas depois do fim do casamento deles. Saraband (2003) foi o último longa dirigido por Ingmar Bergman e trata-se de uma “continuação” do famoso Cenas de um casamento, com os mesmos personagens. O reencontro do ex-casal e a consequente constatação ou não de amadurecimento deve-se ao conflito gerado pelo filho dele, Henrique (Rômulo Braga) e a neta Karen (Marina Viana).
Com o uso de microfones, o registro de interpretação dos atores se aproxima mais da maneira cinematográfica de interpretar do que propriamente da projeção teatral. É bom que seja assim. É “bergmaniano”, já que o elenco sempre foi um ponto forte dos trabalhos do cineasta. Rita Clemente, como Mariana, Gustavo Werneck como João, Marina Viana como Karen, e Rômulo Braga como Henrique estão nítidamente passeando por zonas desconhecidas. Apesar do novo, eles sustentam a proposta com segurança.
‘Sarabanda’ presta tributo ao mestre sem ficar refém dele. Com o devido respeito, extrai o que o filme de Bergman tem de melhor e leva – sem medo – para um outro lugar. De que valeria fazer igual? Saraband, o filme, já é eterno. Sarabanda, a peça, por sua vez, fez de alguns instantes uma experiência diferente e efêmera por natureza.

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