Revista de Cinema: Terminou 2012, começou 2013, e a tendência do público não muda. As comédias continuam dominando a preferência nacional quando o assunto é cinema. Depois de um 2010 atípico nesse sentido, em que “Tropa de Elite 2”, “Nosso Lar” e “Chico Xavier” lideraram, o biênio 2011-2012 volta a comprovar que o brasileiro que frequenta cinema prefere o humor. Das cinco maiores bilheterias brasileiras de 2011, quatro são comédias: “Até que a Sorte nos Separe” (3,5 milhões de espectadores), de Roberto Santucci, o mesmo que liderou 2011 com “De Pernas pro Ar”, “E Aí… Comeu?” (2,6 milhões), de Felipe Joffily, “Os Penetras” (quase um milhão até o fechamento), de Anducha Waddington, e “As Aventuras de Agamenon, o Repórter” (950 mil), de Victor Lopes.
No top 10 de 2012, ainda aparece outra comédia, “Totalmente Inocentes” (550 mil), de Rodrigo Bittencourt. Para Cadu Rodrigues, diretor executivo da Globo Filmes, parceiro da maioria dos filmes de grande público, o sucesso de “Até que a Sorte no Separe” e “E Aí… Comeu?” está no diálogo com o espectador. “[Os filmes] dialogaram com a nova classe média, agradaram o espectador com temas de interesse ou humor de bom nível. Não existe comédia neo ou tradicional e sim comédia boa e comédia ruim, ponto”, afirma.

Cadu Rodrigues, da Globo Filmes, afirma que as comédias deveriam ser uma obrigação, com cota anual de quatro a seis por ano
Em 2013, não deverá ser muito diferente. Entre as principais apostas, segundo Cadu, estão as comédias “De Pernas pro Ar 2”, novamente dirigida por Roberto Santucci, “Concurso Público”, de Pedro Vasconcelos, “Se Puder, Dirija!”, de Paulo Fontenelle, e “Os Caras de Pau”, de Felipe Joffily. Para Cadu, o sucesso das comédias é óbvio e histórico, e até mesmo meio mal aproveitado. “Alguma vez na história foi diferente? Ou Mazzoropi e Oscarito estrelavam filmes autorais e cults? Comédia deveria ser uma obrigação, com cota anual de quatro a seis por ano. Somente quem quer ver o modelo atual de produção se perpetuar pode ser contra isso”, afirma.
As apostas são altas. “De Pernas pro Ar 2” estreou em mais de 700 salas, em uma data que parece favorável ao cinema brasileiro, a virada do ano, mesma época que fez a primeira incursão de Ingrid Guimarães ao mundo dos sexshops render seus 3,5 milhões de espectadores. Aliás, essas comédias, que tem importado muito do tipo televisivo de humor, em especial o global, têm formado seu star system para além das telinhas. Nomes como Bruno Mazzeo, Leandro Hassun, Marcelo Adnet e Ingrid Guimarães devem estrelar mais um bocado de comédias. Entre os diretores, Roberto Santucci e Felipe Joffily têm emplacado.

A comédia “De Pernas pro Ar 2”, de Roberto Santucci, é sucesso garantido nas bilheterias, repetindo uma fórmula que já deu certo. © Mariana Vianna
O sucesso de tais comédias tem animado as produtoras ávidas pela rentabilidade, com continuações. Além de “De Pernas pro Ar 2”, devem chegar em 2014 “Muita Calma Nessa Hora 2”, de Joffily, e “Até que a Sorte nos Separe 2”, de Santucci. E já estão em produção “Casa da Mãe Joana 2”, de Hugo Carvana, e “Cilada.com 2”, de José Alvarenga Jr. “Parece óbvio, mas o mercado brasileiro demorou muito a perceber as oportunidades das sequências. Nos EUA, cerca de 1/3 dos filmes são sequências ou prequels”, aponta Cadu.
Os produtos cinematográficos a partir de programas ou personagens televisivos voltam a bater ponto. Além de “Os Caras de Pau”, baseado no seriado global spin-off do “Zorra Total”, com Leandro Hassun e Marcius Melhem, dois filmes inspirados em personagens devem chegar aos cinemas: “Giovanni Improtta”, de e com José Wilker, baseado em personagem da novela “Senhora do Destino”, e “Super Crô”, de Bruno Barreto, com Marcelo Serrado, que está sendo atualmente escrito pelo autor do personagem, Aguinaldo Silva, baseado no mordomo gay da novela “Fina Estampa”. Além das apostas de Cadu, outras comédias estão previstas para 2013 e têm potencial de bom público: “Entre Dois Amores”, de Luiz Henrique Rios, com Lázaro Ramos e Mariana Ximenes, “Dia dos Namorados”, de Roberto Santucci, com Heloísa Périssé e Danielle Winits, “Minha Mãe é uma Peça”, de André Pellenz, com Ingrid Guimarães, e “Meu Passado me Condena”, de Julia Rezende, com Fábio Porchat. Boa parte deles, curiosamente, distribuídos pela parceria entre Downtown Filmes, Paris Filmes e RioFilme, as mesmas de “Até que a Sorte nos Separe” e “E Aí… Comeu?”.

Cena de “Serra Pelada”, de Heitor Dhalia, com Sophie Charlotte e Juliano Cazarré, superprodução que aposta no cinema de mercado, com tema de época e o absurdo antropológico que foi o garimpo de Serra Pelada, que marcou o século 20. © Ilana Lichtenstein
Nem as comédias salvaram 2012
Ainda que os grandes sucessos brasileiros de 2012 tenham sido as comédias, elas estiveram longe de salvar o ano do fiasco de bilheteria anunciado já no primeiro semestre, quando o balanço apontava um market share de 5% para os longas tupiniquins. Melhorou, mas dificilmente deve sair dos 10% de ocupação de mercado. “A safra de 2012 foi fraquíssima, nunca houve tantos recursos e leis de proteção como agora, mas isso não adianta sem que haja vontade de fato de conquistar um mercado de R$ 2 bilhões só nas salas de cinema”, exclama Cadu Rodrigues.
De fato, várias promessas de público não vingaram – incluindo alguns dos líderes do ano. “As Aventuras de Agamenon, o Repórter”, por exemplo, não conseguiu sobreviver ao boca a boca negativo e terminou sua carreira com menos de 950 mil espectadores. O drama “Paraísos Artificiais”, de Marcos Prado, a aventura “Xingu”, de Cao Hamburger”, o filme de ação “2 Coelhos”, de Alfonso Poyart, e a comédia “Billi Pig”, de José Eduardo Belmonte, todos grandes apostas, com estreias grandes, em por volta de 200 salas cada, mal chegaram aos 400 mil espectadores. Piores ainda foram o drama “À Beira do Caminho”, de Breno Silveira, e a comédia “Reis e Ratos”, de Mauro Lima, que nas mesmas arredondadas 200 salas fizeram 168 mil e 129 mil espectadores respectivamente.
Gonzaga e o poder do filme musical
Se 2012 foi dominado por comédias, “Gonzaga, de Pai para Filho”, de Breno Silveira, foi um respiro, e a confirmação de que há outros caminhos a se seguir, não só como fenômenos isolados (vide o sucesso de “2 Filhos de Francisco”, do mesmo Breno Silveira, em 2005). “Gonzaga” traz, numa estrutura dramática comum às cinebiografias, as histórias do rei do baião Luiz Gonzaga e do músico popular Gonzaguinha, e a complicada relação de pai e filho entre eles. A música, nota-se, tem conseguido grande aceitação do público no cinema. “São filmes de grande potencial, normalmente com forte identificação com o público. Tem tido sucesso de público e de crítica”, pontua Cadu Rodrigues.
Devem vir por aí, ainda, “Somos Tão Jovens”, de Antonio Carlos da Fontoura, cinebiografia de Renato Russo, “Meu Tempo é Agora”, de Johnny Araújo, inspirado na trajetória de Marcelo D2, “Erasmo Carlos – Minha Fama de Mau”, de Lui Farias, “Os Sonhos de um Sonhador – A História de Frank Aguiar”, de Caco Milano, e “Elis”, de Hugo Prata. “Tem muito filme ainda a ser feito: Tim Maia, Chico Buarque, Roberto Carlos, fora os grandes atletas, poetas, heróis etc.”, aponta Cadu. Em 2013, deve estrear ainda “Trinta”, de Paulo Machline, cinebiografia do carnavalesco Joãosinho Trinta, e “Faroeste Caboclo”, de René Sampaio, uma adaptação da canção homônima da Legião Urbana.
Vale ressaltar que os documentários mais bem sucedidos nas bilheterias, nos últimos anos, têm sido os musicais. Em 2012, não foi diferente: “Raul Seixas: o Início, o Fim e o Meio”, de Walter Carvalho, com 168 mil espectadores, e, ambos na casa dos 75 mil, “Tropicália”, de Marcelo Machado, e “A Música Segundo Tom Jobim”, de Nelson Pereira dos Santos – que em 2013 volta ao assunto com “A Luz de Tom”.
Outros gêneros
Para Cadu Rodrigues, outro filme pode chegar com força em 2013, é “O Tempo e o Vento”, superprodução comandada pelo diretor televisivo Jayme Monjardim, de “Olga”, em sua segunda incursão pelo cinema de longa-metragem. Baseado na obra de Érico Veríssimo, o épico gaúcho tem no elenco Thiago Lacerda e Fernanda Montenegro, distribuição da Downtown com a Paris e apoio da Globo Filmes.

A volta aos cinemas da terceira saga da índia Taína, “Tainá – A Origem”, uma marca consolidada do cinema para as crianças
Um gênero que vinha dando certo, mas que foi ignorado em 2012 e deve continuar assim em 2013 é o policial. Outros pouco explorados no cenário nacional, como o fantástico, a ação, entre outros, têm exemplares em produção e desenvolvimento. O filme infanto-juvenil volta com “Tainá – A Origem”, terceira parte da saga da índia Tainá, com direção de Rosane Svartman, “Corda Bamba”, de Eduardo Goldenstein, e “O Segredo dos Diamantes”, retorno ao gênero de Helvécio Ratton.

Cena do filme mineiro “O Segredo dos Diamantes”, mais uma aposta do cineasta Helvécio Ratton com filmes voltados para o público jovem. © Estevam Avellar
A animação também deve dar as caras com o adulto e visceral “Uma História de Amor e Fúria”, de Luiz Bolognesi, o infantil “Brichos – A Floreta é Nossa”, continuação assinada por Paulo Munhoz, e “Minhocas”, de Paolo Conti e Arthur Nunes. “Acho que já é um avanço, mas o importante é ter continuidade. A cada ano, dois a três filmes. São segmentos importantíssimos que precisam de regularidade de produção e de qualidade”, opina Cadu.

A produtora Gullane sai em busca do público jovem e adulto para a animação “Uma História de Amor e Fúria”, de Luiz Bolognesi
Os filmes de aventura também devem buscar seu lugar em 2013, com dois filmes com grande produção por trás e temas populares. “As Fantásticas Aventuras de um Capitão”, de Marcos Jorge, baseado em romance de Jorge Amado, com produção da Total Entertainment, e “Serra Pelada”, de Heitor Dhalia, sobre o garimpo. Entre os filmes espíritas, que estavam em alta, emplacando um, inclusive, em 2012, “E a Vida Continua…” (375 mil espectadores), de Paulo Figueiredo, não há grandes projetos anunciados.
Espaço para os independentes
O chamado cinema autoral dificilmente consegue um alto patamar de bilheteria. Resta a esses filmes um mercado de nicho, pequeno. Mas são eles, muitas vezes, que vão perdurar como marcos do cinema. E há público para esses filmes, a questão é saber como chegar a ele. “O mercado de produção para filmes independentes cresceu, mas o de distribuição ficou estagnado. Não foram criados novos fundos para distribuição, e o único a nível federal – Petrobras – deixou de existir. Não abriram novas salas para esses filmes, e também não se criou qualquer novo mecanismo de incentivo para a exibição deles. As perspectivas para 2013 são ótimas pensando nos novos títulos, mas preocupantes se pensarmos no mercado de exibição e de incentivo à distribuição de filmes independentes”, lamenta Silvia Cruz, responsável pela distribuidora Vitrine Filmes, especializa nos filmes brasileiros independentes.

Cena do drama político “Hoje”, de Tata Amaral, faz parte dos lançamentos independentes de 2013. © Jacob Solitrenick
Foi nesse contexto, por exemplo, que a promissora Sessão Vitrine acabou, ainda que Silvia vislumbre uma possibilidade de continuidade, por falta de espaço e de conseguir fazer certos filmes chegarem a seu público. “Existe sim um mercado, mas para que ele possa ser acessado, o local e o preço do ingresso devem ser diferentes dos praticados, por isso buscamos patrocínio. Sessões com debates em escolas, museus, e mesmo em salas de cinema funcionaram muito bem nessa proposta, onde o público podia se programar e acompanhar um projeto, e não apenas um filme”, aponta Silvia.

Segundo Silvia Cruz, da distribuidora Vitrine Filmes, o caminho do público para os filmes independentes seria o mercado de TV paga, por causa dos incentivos da nova lei. © Leo Lara
O cinema independente brasileiro teve filmes bastante comentados no círculo de festivais e de críticos, com destaque para a estreia em longas de ficção de Kleber Mendonça Filho, “O Som ao Redor”, exibido pela primeira vez em janeiro em Rotterdam e que circulou o mundo arrebatando prêmios. Chegou ao circuito no dia 4 de janeiro. Outros filmes, que circularam por festivais nos últimos dois anos, devem enfim chegar aos cinemas, entre eles, “O Abismo Prateado”, de Karim Aïnouz, “Doméstica”, de Gabriel Mascaro, “As Hiper Mulheres”, de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takuma Kuikuro, “Avanti Popolo”, de Michael Wahrmann, todos pela Vitrine. “O que se Move”, de Caetano Gotardo, e “Super Nada”, de Rubens Rewald, ambos a serem lançados pela Lume Filmes. “Hoje”, de Tata Amaral, “Eles Voltam”, de Marcelo Lordello, “Eden”, de Bruno Safadi, “A Floresta de Jonathas”, de Sérgio Andrade, entre vários.

“O que se Move”, de Caetano Gotardo, será lançado em 2013 pela distribuidora independente Lume Filmes
Outros filmes, se não estrearem, devem ao menos começar a fazer o circuito de festivais, como “Quando Eu Era Vivo”, de Marco Dutra, “Praia do Futuro”, de Karim Aïnouz, “Carisma Imbecil”, de Sérgio Bianchi, “Depois da Chuva”, de Cláudio Marques e Marília Hughes, “A Montanha”, de Vicente Ferraz, “A Primeira Missa”, de Ana Carolina, “Quase Samba”, de Ricardo Targino, “O Rio nos Pertence”, de Ricardo Pretti, “Tatuagem”, de Hilton Lacerda, “O Homem das Multidões”, de Marcelo Gomes e Cao Guimarães, entre outros.
Para Silvia Cruz, não há como precisar quais desses novos filmes podem conseguir um lugar ao sol. “A palavra independente não é muito precisa. Existem diferentes filmes e ainda é cedo para dizer quais vão atrair mais atenção. A carreira e premiação em festivais durante o ano é um dos fatores que pode atrair mais atenção do público e da mídia”, afirma. O caminho para chegar a muitos desses filmes, porém, segundo Silvia, talvez seja outro, através da TV paga, por conta da nova lei.
Fonte : http://revistadecinema.uol.com.br/index.php/2013/01/perspectivas-do-filme-nacional-para-2013/

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