Com diretores jovens e retomada de veteranos, 2012 foi ano feliz para cinema brasileiro

Sérgio Alpendre
Do UOL, em São Paulo

  • Cena do filme O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho, com grande repercussão em 2012Cena do filme “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho, com grande repercussão em 2012

Em 2012 o número de filmes produzidos no Brasil foi tão volumoso, e o resultado geralmente tão animador, que poderíamos passar este texto inteiro mencionando apenas bons filmes. E deixando de lado aqueles que, por algum motivo, não deixaram seus traços no mapa da história do cinema.
E não há como negar: ao menos em matéria de repercussão, 2012 foi o ano de “O Som ao Redor“. Descontando o irregular projeto “Crítico”, este é o primeiro longa do pernambucano Kleber Mendonça Filho, diretor que acumulou prêmios com seus curtas (dos quais se destacam “Eletrodoméstica” e “Recife Frio”).
“O Som ao Redor” consegue unir experiência sensorial com relato de história, e o faz com um domínio da técnica que qualquer inimigo do cinema brasileiro deverá perder o argumento batido de que filmes desta terra são pobres e mal feitos.
Quando foi exibido no Festival do Rio, causou espécie em cinéfilos e jornalistas, após uma temporada de sucesso e prestígio em festivais internacionais (o que sempre significa prestígio automático aqui, por tabela). Ainda não estreou comercialmente, o que acontecerá finalmente em janeiro de 2013, mas é a grande sensação deste ano, e deverá ser presença frequente nas listas gerais de melhores filmes do ano que vem.
Diretores estreantes
Além de “O Som ao Redor”, outro filme que se revelou acima do patamar dominante foi de um diretor estreante. Caetano Gotardo tem impressionado plateias por onde passa com seu “O Que Se Move“, em que três histórias se oferecem ao drama humano e ao inusitado.
No Festival de Brasília, que neste ano parece ter acordado para o cinema feito por jovens, os filmes “Domésticas“, de Gabriel Mascaro, e “Eles Voltam”, de Marcelo Lordello, foram os mais discutidos. Eles são dois diretores pernambucanos que já haviam aprontado no circuito de festivais (Mascaro com “Avenida Brasília Formosa”, e Lordello com o curta “Nº 27”), mostrando que a nova geração parece interessada em abalar as estruturas do convencionalismo.
O ano começou com veteranos se sobressaindo aos jovens na tradicional Mostra de Tiradentes, em Minas Gerais. Em janeiro, quem brilhou foi o baiano Edgard Navarro com seu “O Homem Que Não Dormia“, e o recém-falecido Alberto Salvá com o deliciosamente safado “Na Carne e na Alma“.
O primeiro chegou ao circuito com relativo sucesso, dentro de um nicho específico. Meio “felliniano”, meio cinema marginal (lembra, no tom, Elyseu Visconti), “O Homem Que Não Dormia” foi mesmo o grande filme brasileiro do ano. Navarro, após o simpático mas decepcionante “Eu Me Lembro”, lembra-nos também que foi o diretor de “Superoutro”, média-metragem antológico lançado em 1989.
Quase tão bom quanto o filme de Navarro, o de Salvá parece estar perdido em algum limbo no tempo. Seu personagem principal se apaixona perdidamente por uma garota que se nutre uma tara por tudo que possa sair dela. Polêmico, mas também extremamente talentoso, “Na Carne e na Alma” não é pornochanchada, mas sofre de preconceito semelhante por sua falta de inibição para diálogos chulos e situações sexuais fortes. Palmas para a curadoria de Tiradentes, que o resgatou de um anonimato em potencial.
Circuito comercial e festivais
No circuito comercial finalmente tivemos a estreia de “Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha”, dirigido por Helena Ignez. O longa propõe uma inteligente continuação de “O Bandido da Luz Vermelha”, clássico do cinema de invenção. O estilo remete ao filme antigo, e as interpretações são vibrantes, especialmente as de Ney Matogrosso e Djin Sganzerla.
Vale destacar também o doce retrato de uma época mostrado por Ugo Giorgetti em “Cara ou Coroa“, longa que volta aos anos de chumbo com um olhar terno, generoso e atento aos detalhes. O filme ainda tem mais um show do grande Otávio Augusto. E o novo longa de Beto Brant, “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios”, vem com uma performance inesquecível de Camila Pitanga.
Alguns outros longas em circuito e, sobretudo, nos festivais, se destacaram neste que foi um dos anos mais felizes do cinema brasileiro. Vale a pena mencioná-los como filmes acima da média:
– “Éden”, de Bruno Safadi;
– “Super Nada”, de Rubens Rewald;
– “Mãe e Filha” (que passou em festivais em 2011), de Petrus Cariry;
– “O Duplo”, curta de Juliana Rojas;
– “Na Sua Companhia”, curta de Marcelo Caetano;
– “Licuri Surf”, curta de Guile Martins.
Fonte: cinema.uol.com.br

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